Brintell Talks: como é ser mulher na tecnologia em tempos de pandemia?

A Brintell conversou com profissionais da área sobre as dores e delícias de quebrar padrões em um campo majoritariamente masculino


Você sabia que pelo menos metade das profissionais do sexo feminino abandonam a carreira de TI antes dos 35 anos de idade? É o que mostra um estudo da Accenture, em parceria com o Girls Who Code. E este é apenas um de inúmeros dados preocupantes na participação feminina em profissões de tecnologia. Confira este infográfico, produzido por profissionais de dados e design aqui da Brintell, que reúne informações sobre a diferença entre os salários, oportunidades de TI para mulheres e outros dados importantes.

Ser mulher, por si só, já pode ser considerado uma prova de força e resiliência. E não é diferente para as profissionais de tecnologia: a mentalidade masculina ainda é predominante no meio. Por isso, a Brintell acha importante dar voz às mulheres que batalham todos os dias para quebrar padrões no campo profissional. 


Para trazer visibilidade não só ao assunto, mas às mulheres que lutam para mudar esta realidade, ouvimos algumas profissionais de TI sobre os desafios e triunfos de ser mulher na tecnologia, o cenário da pandemia e o que ainda pode ser feito para trazer mais equidade ao mercado.


Laylla Toledo, psicóloga e fundadora da eSinapse

Para Laylla, ser mulher e ser profissional de tecnologia são condições que possuem muitas características em comum. “A tecnologia exige de nós constante aprimoramento, inovação, atualização. A gente tem sempre que fazer atualização do nosso software. E como mulher também. Nós somos constantemente testadas”, conta. 


Fundadora da eSinapse, uma plataforma que oferece tecnologia assistiva para pessoas com TDAH, Laylla lida diretamente com os efeitos da pandemia na carreira e na vida pessoal. 


Apesar do apoio da família, ela considera que a mudança na rotina teve um preço alto para a saúde mental. “A gente sempre fica com aquele olhar de gestão macro, vendo como é que as coisas estão andando, educando, orientando e por aí vai. Então isso dificultou porque sobrecarregou, causou um desgaste, um cansaço”, relata.


Mariana Campos, gerente de projetos na subsecretaria de TI do Ministério da Cidadania

Mariana Campos, advogada, empreendedora e, atualmente, Analista de Políticas Sociais e Gerente de Projetos na Subsecretaria de Tecnologia da Informação do Ministério da Cidadania, enxerga os efeitos da pandemia na própria carreira e na de colegas de profissão. Para ela, o contexto mundial somou-se a desafios já existentes para as mulheres da área.  


“Acredito que o maior desafio hoje é a mulher ter firmeza, acreditar em si mesma e não se deixar abalar por eventuais julgamentos. Ela é capaz, nós somos capazes e nós podemos provar que podemos fazer um belíssimo trabalho dentro desse ambiente”, afirma. 


Apesar das dificuldades, ela acredita que as empresas têm muito a ganhar ao investir estrategicamente nas características femininas. “Eu sempre falo que uma igualdade de direitos, de condições de trabalho não tem a ver com a mulher mostrar que é igual ao homem. E sim mostrar que com suas próprias características femininas, elas podem ser tão boas ou até melhores do que o homem”, diz.


Mais do que apenas contratar mulheres, Mariana defende que as empresas de tecnologia deveriam se associar a iniciativas com foco no protagonismo feminino. A Pyladies, uma comunidade global que chegou ao Brasil, é um dos exemplos citados pela gerente de projetos. 


Tereza Alux, diretora global da Ladies That UX

Você já ouviu falar em “síndrome do impostor”? Trata-se de um sentimento constante de dúvida das próprias realizações profissionais ou acadêmicas que atinge milhares de pessoas. As mulheres, infelizmente, compõem grande parte desse grupo. Os padrões de cobrança e qualidade a que as mulheres são submetidas durante toda a construção de suas vidas profissionais são tão exigentes que acabam causando a sensação de que elas não são boas o suficiente para o cargo ou trabalho. 


Tereza Alux, diretora global da Ladies That UX, citou a síndrome do impostor como um mal muito comum a mulheres na tecnologia. Além do importante cargo na comunidade feminina, Tereza é product designer no Mercado Livre e professora de MBA na FIAP. “As mulheres precisam ser valentes, ousadas, acreditar nelas mesmas, na sua competência, no seu trabalho para que sejam protagonistas das próprias vidas e responsáveis pelas próprias conquistas”, comenta. 


Além das dificuldades inerentes ao contexto pandêmico, Tereza chama atenção para um problema que não recebe tanta atenção: a violência doméstica. “Desde o início da pandemia, as denúncias aumentaram muito, assim como os divórcios, índices de feminicídio... Tudo isso contribui para um cenário onde ainda é difícil para mulher pensar em ter protagonismo na carreira”, defende. Ela ainda aconselha que as empresas mantenham uma comunicação mais clara e acessível sobre assédio e violência.


Mariani Silva, analista de BI no Ministério da Cidadania

Sabe-se que a pandemia do novo coronavírus trouxe consequências sérias ao mercado de trabalho mundial. Mas será que o distanciamento social também não trouxe algumas vantagens competitivas para os profissionais? É esta a visão que Mariani Silva, analista de business intelligence no Ministério da Cidadania, trouxe ao Brintell Talks. 


“Com o contexto da pandemia, nós pudemos ver que muitas entrevistas (de emprego) foram online, então eram examinados o currículo, o LinkedIn, os projetos, o valor do profissional. E aí você já não olhava mais a aparência, a pessoa, o gênero, se é uma mulher ou homem, se tem 25 ou 27 [anos de idade]”, compartilha a analista.


Mariani também tem uma visão otimista para o futuro feminino na tecnologia. Ela acredita que estamos vivendo um momento de transição para dias melhores e que as mulheres devem agarrar a oportunidade para se especializar na área de tecnologia, com o apoio de instituições como a Rede Liga Delas. “Na transformação tecnológica que tem acontecido, a gente consegue perceber que a geração millennial está encabeçando muitas coisas referentes à tecnologia, como startups, como CEOs de grandes empresas. E com isso, acredito que seja o momento ideal para as mulheres também entrarem e surfarem nessa onda”, conclui. 


Conheça iniciativas que apoiam o espaço feminino na tecnologia

Nos últimos anos, as comunidades de apoio às profissionais de tecnologia têm desempenhado um papel essencial para desconstruir preconceitos e criar um ambiente de trabalho mais acolhedor para as mulheres. Não à toa, todas as profissionais que foram entrevistadas para este artigo citaram iniciativas que defendem o espaço feminino na tecnologia. Conheça um pouco mais sobre estas comunidades:


  • Girls Who Code: é uma iniciativa global que está “alcançando meninas em todo o mundo e no caminho certo para eliminar a lacuna de gênero em novos empregos básicos de tecnologia até 2030”, segundo o próprio portal. Siga a comunidade no Instagram, Facebook e LinkedIn.
  • Pyladies: é uma comunidade global que chegou ao Brasil e tem representantes também no Distrito Federal. O objetivo da Pyladies DF é “mostrar às meninas que não há limites para sua capacidade intelectual”. Acompanhe a comunidade no Instagram, Facebook e Twitter
  • Ladies That UX: a Ladies That UX se autodescreve como "uma comunidade de mulheres em UX que se apoiam, expandem os limites de UX e promovem habilidade e talento ”. Trata-se de uma comunidade global que possui representantes aqui no Brasil, em São Paulo. Acompanhe no Instagram, Facebook e LinkedIn
  • Rede Liga Delas: é uma iniciativa nacional que surgiu “a partir de uma idealização da jovem, mulher, empreendedora, engajada em causas políticas e defensora dos direitos individuais, Julia Lucy”. Siga no Instagram, Facebook e YouTube

Aos poucos, com a contribuição de comunidades, profissionais e empresas, as mulheres vão conquistando cada vez mais espaço entre profissões de tecnologia!

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